sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Piano


O piano do século XIX era já um instrumento muito diferente daquele para que Mozart escrevera. Remodelado, aumentado e tecnicamente melhorado, era agora capaz de produzir um som pleno e firme a qualquer nível dinâmico, de responder em todos os aspectos às exigências de expressividade e do mais extremo virtuosismo. O piano foi o instrumento romântico por excelência.
No início do século existiam duas escolas diferentes de execução pianística: uma sublinhando a clareza da textura e a fluência técnica, era representada por Johann Nepomuk Hummel (1778-1837), talentoso discípulo de Mozart; a outra, a que, sem dúvida, pertencia Beethoven, sublinhava a sonoridade plena, a amplitude dinâmica, os efeitos orquestrais, a execução dramática e riqueza dos recursos técnicos. Ambos os estilos estão presentes na obra de um influente compositor, pianista e professor — e, a partir de 1709, em Londres, fabricante de pianos —, o italiano Muzio Clementi. O seu famoso Gradus ad Parnassum, publicado em 1817-1826, compõe-se de cem estudos “em estilo severo e livre”, ou seja, estudos contrapontísticos e virtuosísticos; Beethoven foi um grande admirador das suas numerosas sonatas (v. NAWM 109).
À medida que aumentava o nível de exigência técnica e iam surgindo, ao longo do século, novos estilos de música para piano, foram nascendo também novas escolas de execução e composição. A elegância e o sentimento, a luminosidade e a clareza eram os grandes objetivos de John Field (1782-1837), discípulo de Clementi, de Adolf von Henselt (1814-1899) discípulo de Hummel e (na maior parte das peças) de Chopin, cujas primeiras obras evidenciam uma particular influência do estilo de Hummel. Outros pianistas visavam antes de mais o impacto, a audácia e os efeitos espectaculares. As figuras que mais se destacaram nesta tendência foram Friedrich Kalkbrenner (1785-1849), Sigismund Thalberg (1812-1871) e o americano Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) — todos pianistas de sucesso, mas, enquanto compositores, figuras decididamente de segundo plano. Um terceiro grupo compunha-se dos grandes virtuosos do século XIX, notáveis pelos seus dotes técnicos e interpretativos, os “titãs do piano”: Franz Liszt, Anton Rubinstein (1829-1894), Hans von Bülow (1830-1894) e Karl Tausig (1841-1871). Destes quatro, Liszt e Rubinstein destacaram-se também como compositores e Bülow como maestro.
Os melhores compositores e executantes do século XIX procuraram evitar os dois extremos: o sentimento da música de salão e as exibições técnicas supérfluas. Entre aqueles cujo estilo e cuja técnica foram essencialmente determinados pela substância musical, sem ornamentos inúteis ou manifestações supérfluas de bravura, podemos citar os nomes de Schubert, Schumann, Mendelssohn, Brahms e Clara Wieck Schumann (1819-1896).
Boa parte da música romântica para piano foi escrita em formas de dança ou sob a forma de breves peças líricas. Estas últimas têm uma grande diversidade de nomes e sugerem quase sempre uma atmosfera ou um cenário romântico, por vezes especificado no próprio título. As principais obras mais longas foram os concertos, as variações, as fantasias e as sonatas, embora muitas destas últimas possam ser consideradas como conjuntos de peças de caráter, e não tanto como sonatas no sentido clássico do termo.


(Pintura "Ao piano" de Pierre-Auguste Renoir)

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