terça-feira, 2 de agosto de 2011

O "Scala di Milano"



Tanto pela sua história gloriosa como pelo seu presente, o Scala de Milão é um dos maiores centros operísticos de maior significado e influência. Foi construído em conseqüência de um incêndio que provocou, em 1776, a destruição do Teatro Regio Ducale da capital lombarda. Foi a imperatriz da Áustria quem encarregou da sua construção o arquiteto Giuseppe Piermarini di Foligno. Deve o seu nome, Teatro alla Scala, ao fato de se erguer no local antes ocupado pela Igreja de Santa Maria della Scala, fundada no século XIV, por Regina della Scala, mulher do duque de Milão, Barnabà Visconti.

A sua inauguração data de 3 de agosto de 1778, altura em que foi representada, juntamente com dois bailados complementares, a ópera de Salieri Europa riconosciuta. Mas só em 1820, graças ao arquiteto Sanquirico, começou a adquirir o seu aspecto atual. Em 1854, abriu-se uma nova entrada principal, numa ampla praça que comunica com a Piazza dei Duomo por meio da Galeria Vittorio Emmanuele.

O edifício foi alargado em 1867, instalou-se a luz elétrica em 1884 e foi restaurado em 1921. Em 1938, procedeu-se a uma reforma técnica decisiva do palco. Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, um bombardeamento causou graves danos ao teatro, tendo-se salvo, felizmente, o palco. A reconstrução, obra do arquiteto Luigi Lorenzo Secchi, foi muito rápida e o Scala pôde abrir novamente as suas portas ao público a 11 de maio de 1946.





O palco do Scala mede 39,99 m de largura, de 25,33 m a 30,75 m de altura e 6,09 m de profundidade e a sala, em hemiciclo, tem capacidade para cerca de três mil pessoas, distribuídas entre a platéia, cento e cinqüenta e seis camarotes de quatro ordens e duas galerias. A sala é bela, sem exageros, e está extraordinariamente bem conservada, tal como todas as dependências do teatro. O foyer, embora não muito grande, tem uma elegante simplicidade. No vestíbulo, podem ver-se quatro estátuas, de tamanho natural, de Rossini, Bellini, Donizetti e Verdi. No salão do primeiro andar encontram-se bustos de Puccini e de Toscanini.

A história artística do Scala é realmente esplendorosa e, como baluarte incontestado da ópera italiana, tem como uma das suas máximas coroas de glória a colaboração direta que soube estabelecer com os mais representativos compositores da península do século XIX. O primeiro deles foi Rossini, cuja primeira obra para o Scala, La pietra dei paragone, foi representada cinqüenta e três vezes no ano da sua estréia (1812). Rossini estrearia também no Scala Aureliano in Palmira, Il turco in Itália, La gazza ladra e Bianca e Falliero. Dá-se o caso verdadeiramente revelador de terem sido suas nada menos de trinta e duas das cinqüenta e duas óperas ali levadas à cena entre 1823 e 1825. Pouco depois, em 1827, Bellini estreou, no Scala, Il pirata, que constituiu uma autêntica revelação, e, depois, La straniera e Norma. Donizetti também colaborou diretamente com o Scala. Aí estreou nove óperas da sua abundante produção, entre elas, Anna Bolena, L'elisir d'amore, Lucrezia Borgia e Maria Stuart.

Giuseppe Verdi iniciou a sua carreira precisamente no Scala, onde estreou as quatro primeiras óperas: Oberto, conte di San Bonifacio, Un giorno di regno, Nabucco e I lombardi. Com Nabucco (1842), obteve um êxito extraordinário, cheio de conotações políticas, uma vez que o público milanês se sentiu identificado, devido à ocupação austríaca, com os hebreus cativos, especialmente no célebre coro “Va pensiero”. Depois de ter estreado Ernani, em Veneza, e I due Foscari, em Roma, Verdi voltou ao Scala, em 1845, com Giovanna d'Arco, iniciando-se então uma separação que se iria prolongar por vinte e quatro anos, até que, em 1869, estreou no Scala a sua segunda versão de La forza del destino. A esta seguiram-se a estréia européia de Aida, as novas versões de Simon Boccanegra e Don Carlo e, finalmente, as estréias triunfais das suas duas últimas óperas: Otello (1893) e Falstaff (1897).

Herdeiro das tradições operísticas italianas, Giacomo Puccini estreou no Scala três das suas óperas: Edgar (a segunda do seu catálogo), Madama Butterfly, com a qual obteve um histórico insucesso na noite da estréia, em 1904, e Turandot, que se estreou em 1926, sob a direção de Toscanini, dois anos após a morte do seu autor.

Durante muitos anos, o Scala dedicou-se praticamente à ópera italiana, mas, a partir do final do século XIX, começou a alargar os seus horizontes e, progressivamente, incluiu na sua programação as obras de Wagner, Gluck, Strauss, Debussy, Charpentier, Dukas, Boródine, Mussorgski e outros. Coincidindo com o princípio dessa abertura, o Scala foi dirigido por uma figura que soube dar-lhe uma volta de modernidade, serenidade e organização, de acordo com os novos tempos: Arturo Toscanini, que esteve ligado a este teatro durante três períodos: 1898-1903 (em que introduziu Wagner), 1906-1908 e 1921-1929. Por inspiração sua, no início deste último período, constituiu-se o chamado “Ente Autonomo”, que é, desde então, a estrutura organizativa e financeira que vem regendo a vida dos principais teatros de ópera italianos.

Além de Toscanini, a história do Scala esteve sempre associada a figuras preeminentes da direção da orquestra. Entre os que estabeleceram uma colaboração mais duradoura ou frutuosa, poderiam referir-se Faccio, Campanini, Mugnone, Vitale, Marinuzzi, Panizza, Serafin, Furtwängler, Walter, De Sabata (sucessor de Toscanini, de 1929 a 1953), von Karajan, Giulini, Mitropoulos (que morreu no estrado do Scala, durante um ensaio, a 2 de novembro de 1960), Gavazzeni, Kleiber e Abbado.

Mas o Scala não foi só um centro de ópera. São célebres os seus ciclos de concertos (onde atuaram como solistas Liszt e Paganini, e, na qualidade de regentes, Richard Strauss, Casais e Stravinsky) e as freqüentes manifestações coreográficas que, seguidas com grande entusiasmo, assentam numa tradição que parte de Salvatore Viganò e culmina na figura graciosa de Carla Fracci.

Apesar de, durante os anos do fascismo, Mussolini ter tentado fazer da ópera de Roma o primeiro teatro de Itália, o Scala continuou a ocupar o primeiro lugar. Depois da sua destruição parcial e posterior reconstrução, pôde iniciar um novo e glorioso período em 11 de maio de 1946, com um memorável concerto que representou o regresso a Itália de Arturo Toscanini. Entre aquela data e 1972, o teatro foi dirigido por Antonio Ghiringhelli, que proporcionou a época gloriosa de Maria Callas, a que estão estreitamente ligados nomes tão significativos como os de Renata Tebaldi, Giulietta Simionato, Mario dei Monaco, Giuseppe di Stefano, Franco Corelli, Ettore Bastianni, Luchino Visconti, Franco Zeffirelli, Giorgio Strehler, Margherita Wallmann ou Nicola Benois. Ghiringhelli cedeu a sovrintendenza a Paolo Grassi e este, por sua vez, a Carlo Maria Badini.

O edifício da ópera alberga um importante museu teatral, fundado em 1913, o Piccola Scala, pequeno teatro inaugurado em 1955, e uma escola de canto e outra de dança.
A companhia do Scala levou as suas produções ao estrangeiro, mais concretamente a partir de 1950, a Londres, Munique, Viena, Berlim, Edimburgo, Bruxelas, Moscou, Washington e, em 1981, a várias cidades do Japão.

Uma das tradições mantidas pelo teatro é a de inaugurar a sua temporada a 7 de dezembro, dia de Santo Ambrósio, patrono da cidade.

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